Cultura do Vime

O Vime garante trabalho para cem famílias em Rio dos Cedros. Elas estão lá no alto, a mais de 650 metros de altitude, numa comunidade longe de tudo e todos. São cerca de 110 famílias, das quais pelo menos cem sobrevivem da mesma atividade: a fabricação artesanal de peças utilitárias e de decoração feitas em vime.  A comunidade chama-se Rio Milanês, e pertence ao município de Rio dos Cedros, no Médio Vale do Itajaí. Mais parece, entretanto, uma aldeia escondida no meio do mato, onde, com mãos hábeis e calejadas, os moradores tecem balaios, cadeiras, baús, mesas, armários, e o que mais a imaginação permitir. E, assim, vão tecendo também suas vidas, sem pressa, seguindo a tradição de seus pais, avós e bisavós.

Rio dos Cedros foi colonizada por italianos, que chegaram à região a partir de 1875. No alto de um morro fundaram a comunidade de Rio Milanês. Foi lá que chegou, também, a família do jovem Benjamin Sandri. Eles trouxeram mudas de videiras porque, como todo bom italiano, queriam plantar uvas para produzir o vinho.

As mudas estavam amarradas com pedaços de vime. Para aproveitar esse material, Benjamin Sandri, então com 12 anos, decidiu transformar essas amarras em balaios.

– Não dava certo, e ele fazia e desfazia o balaio, até que conseguiu criar um cesto aproveitável. Aí decidiu plantar algumas mudas de vime e começou na atividade – conta Ondina Sandri, 64 anos, casada com Erci (já falecido), neto do imigrante italiano.

Histórias dos imigrantes emocionam

Ela se emociona quando lembra das histórias de pioneirismo e sacrifícios dos primeiros imigrantes. Benjamin, por exemplo, para ganhar um dinheirinho, começou a fabricar os balaios, que depois de prontos colocava nas costas e saía para vender aos colonos da comunidade e também na pequena cidade que se formava ao pé do morro.

– Ele caminhava o dia inteiro, vendendo seus balaios, e seguiu assim sua vida inteira – conta Ondina.

A história que Benjamin começou a escrever recebeu, depois, muitos outros capítulos. Os descendentes da família Sandri seguiram os passos do patriarca, e hoje a Empresa Irmãos Sandri exporta móveis e utensílios de vime para todo o Brasil. A fábrica fica no terreno de Ondina – a mais velha dos Sandri – que acompanha de perto o crescimento dos negócios.

– Passei minha vida inteira traçando vime. Hoje, me limito a olhar e dar meus palpites, quando me pedem, mas se precisar ajudar na confecção, eles sabem que eu ainda dou conta do recado – arremata.

Dos nove filhos que Ondina teve, sete trabalham com o vime. A tradição está mantida.
Fonte: Diário Catarinense