AS PRIMITIVAS CASAS E A ORIGEM DOS TIJOLOS E

 

Documento do Imigrante Pietro Trentini escrito em 1900

(traduzido do italiano)

Os colonos italianos durante os primeiros 20 anos, somente construíam suas casas de madeira, fechadas com tábuas ou de ripas de palmitos, cobertas com folhas ou com pequenas telhas, também  de madeira, chamadas de “scándole”, (taboinhas) .

 

 A floresta aqui, fornecia todo o material necessário para construir uma decente moradia, suficiente para se defender do frio e do calor. A canela, o jacarandás a tachuba, o cedro, a caruba, a cangerana, o aribá e outras árvores de qualidade, eram muito abundantes e resistentes ao tempo.

Por isso empregavam-se nas obras de construção. Delas tiravam-se os esteios, as linhas, as tesouras e os sarrafos, em geral esquadrinhados à mão. Ainda hoje existem muitas dessas construções velhas, que mostram como se construía antigamente.

Para cobrir o telhado, usava-se um tipo de folha muito larga e consistente, que durava até 10 anos. Com 200 folhas desse material se fazia um metro quadrado de telhado. Por isso a construção da segunda casa desse tipo, tornava-se bastante fácil e barato, de vez que o colono podia ele mesmo construí-la, desfazendo-se daquela primeira de emergência, feita de pau a pique, apenas como abrigo tosco para  se defender do tempo e dos animais ferozes.

 

O palmito é uma planta sem ramos. Cresce como a palmeira  e está encimado por um só grupo de folhas, com altura de 10 a 15  metros. Da grossura de 25 cm de diâmetro, torna-se fácil rachá-lo em pequenas e mínimas achas, até 8 partes.

Assim, aqueles colonos que não podiam ainda fechar suas casas com tábuas, o faziam com essas ripas de palmito, amarradas com cipó e revestidas em seguida de barro.

O cipó-imbé, nome originário da língua tupi-guarani, é um junco curioso para estudo. Nasce, cresce e prende-se nas mais altas árvores, deixando cair, depois, inúmeras cordas de 10 até 20 metros de comprimento, da grossura de um lápis, fortes e resistentes, chegando até o chão, onde formam raízes, agarrando-se fortemente à terra.

Neste estado, amadurecem, podendo suportar comodamente o peso de um homem. Cortado da altura das raízes, o cipó seca; mas sua Consistência pode perdurar por muitos anos, uma vez conservado em lugar seco.

As casas assim elegantemente construídas, apresentam uma Prospetiva bastante pitoresca. Em Rio dos Cedros, em geral, essas casas que substituíram os primeiros barracos, eram assim.

A partir do ano de 1880, o tijolõ foi substituindo as tábuas. Esta nova indústria iniciou suas atividades pelo sistema trazido da Itália por Pietro Trentini. Não se usava forno fixo. A fabricação do tijolo era feita no local onde seria construída a casa ou a igrejinha Quem precisasse, por exemplo, de 20.000 tijolos, Pietro Trentini fabricava-os no local da construção, secava-os e queimava-os ao ar livre, de forma a não acarretar nenhuma despesa de Transporte para os interessados.

 

Neste lugar cavava-se e preparava-se o barro com os pés e mais tarde com os cavalos. O barro assim preparado era atirado com força braçal nas formas de madeira adrede preparadas e o tijolo armado para secar ao sol. Por fim ajuntado, era queimado sem o uso de fornos.

 

Esse tipo de fabricação, como vimos, foi obra de Pietro Trentini, que com habilidade orientava a fabricação gratuitamente, para todas as famílias que o desejassem.

 

 
   


Pietro “Trentini, era também pedreiro. Como não havia ninguém capaz de levantar casas de material, o povo depositava nele, toda a confiança. Ele na Itália, como militar em Casale Monferrato, aprendera teoricamente a construir; mas faltava-lhe a prática. Teve, portanto, de início, que enfrentar sérias dificuldades, facilmente superadas pelo conhecimento teórico que possuía.

Pietro Trentini, em companhia de Luigi Bassan e seus filhos, pôde. prestar assim relevantes serviços às comunidades neste ramo, nos primórdios de sua formação. Ainda nos nossos tempos existem daquelas antigas casas construídas por ele, muitas delas do tipo enxaimel.

Com esse mesmo método, foram construídas, outrossim, diversas pequenas igrejas e escolas, mais tarde demolidas, para dar lugar a outras maiores e mais modernas. Assim foram fabricados e assentados até 1900, cerca de 450.000 tijolos da maneira como ele havia aprendido na Itália.

 

Trentini, Bassan e seus filhos, não se dedicavam, entretanto, inteiramente a essa profissão. Aproveitavam o tempo disponível e as ocasiões que apareciam, trabalhando a baixo preço, sem visar lucros, unicamente para servir os colonos. No mais, eles trabalhavam no campo dedicando-se à agricultura.

 

Parece ser de justiça lembrar seus nomes no Primeiro Centenário da Imigração Italiana em Rio dos Cedros, si se tem em vista a sua abnegação e inteira dedicação a favor do povo, constituindo-se sem o perceber, em primeira “Companhia Construtora Riocedrense”.

 

HISTÓRIA E IMIGRAÇÃO ITALIANA DE RIO DOS CEDROS, VICTOR VICENZI, PÁGINAS 143 E 144.