Escola e Educação

A preocupação dos pioneiros de Rio dos Cedros, sempre foi a escolarização e a educação de seus filhos. Por isso, desde o início da formação das comunidades, construíram também suas escolas, embora rudes, sem conforto e com bancos feitos de tábuas serradas à mão um quadro negro, um mapa da Itália e um Crucifixo, ornamentavam as paredes da escola.

No meio do banco escolar, havia um furo para se colocar o tinteiro, a onde os alunos com canetas feitas de madeira, com uma pena adaptada, escreviam no papel escasso e disputado. A escola era particular. O professor geralmente era de pouca conversa e temido. À sua chegada os alunos o cumprimentavam com um “bon di” expresso com temor e de cabeça baixa.

Tudo era muito simples. As crianças iam para a escola descalças mesmo no rigor do inverno, sem agasalho e percorrendo a pé, quatro e até cinco km, através de picadas ou estradas muitas vezes intransitáveis, para chegarem à escola.

As meninas amarravam o lenço na cabeça e os meninos com um chapeuzinho de palha, se amparavam do frio ou da chuva, pois, ainda as sombrinhas e os guarda-chuvas não existiam.

O estudo era rudimentar, até 0 3º ano primário; mas praticamente não havia analfabetos. Todos sabiam ler e escrever.
As crianças levavam consigo sua merendinha na “bissaca”, espécie de sacola feita de pano, para comer na hora do recreio. Essa merendinha nada mais era do que batata doce assada nas cinzas do fogão de casa.
Outras crianças levavam duas fatias (do fiete) de polenta assadas sobre o braseiro, pois não havia ainda chapa nos fogões, ou duas fatias de pão caseiro, ou nada quando não se tinha em
O WC era a mata. Água, se fosse preciso, só mesmo a do rio mais próximo da escola.

Entretanto as crianças eram sadias e fortes acostumadas desde pequenas a enfrentar os maiores sacrifícios.

Na escola aprendia-se a ler e a escrever. Fazer contas e estudar doutrina cristã. As aulas eram administradas em italiano e em alunos núcleos respectivos, conforme as comunidades de sua oriO catecismo era decorado por inteiro. Estudava-se ainda História e Geografia.

O professor, geralmente, no início da aula de História, mandava cantar: “O Brasil foi descoberto no dia 21 de abril de 1500 por Pedro”.

Carregava-se o material escolar na “bissaca”, a tira colo. Além disso, não podia faltar o lápis comum para escrever no papel e o lápis de grafite para escrever numa pequena lousa, também de grafite de 10 x 20 cm, chamada “tabela”. Nela se faziam as tarefas de caligrafia, contas e cópias. Uma vez corrigidas pelo professor, tudo era apagado, com a manga da camisa, ou com os dedos umedecidos com; a saliva, para em seguida, repetir outras tarefas do gênero.

Os da velha guarda se lembram ainda dos livros adotados, naquela época distante: — “L’Abbaco, il Libbro di Peppino, La Storia Sacra, il Catechismo, La Piccola Storia d’ltalia” e outros, fornecidos pelos Consulados Italiano e Austríaco. Não havia textos em português. Somente com a ditadura de 1937 de Getúlio Vargas, é que toram introduzidos os livros didáticos obrigatórios em português nas escolas, tanto italianas como alemãs. Dai por diante quem falasse em italiano ou alemão, seria punido.

Por isso como ninguém falasse o português, com exceção da escola da sede e alguma outra, os alunos no recreio ficavam em silêncio sepulcral. Um episódio vem aqui a propósito narrado por Elisário Cattoni: Certa vez o inspetor visitava pela primeira vez, a escola da Glória. Fez diversas perguntas aos alunos, mas ninguém respondia.
Tomou então um lápis na mão e quis achar o dono para o devolver. “De quem é este lápis?” pergunta o Inspetor por diversas vezes. Silêncio profundo. Ninguém responde. “De quem é este lápis?” repete o Inspetor. Vamos, falem. Finalmente o aluno Giuseppe Bagátolli levantou o braço sem falar.

O Inspetor insiste: Fale, vamos. E o ensinava como devia fazer. Giuseppe, então, rápido como um raio falou: “Este lápis é minho” . Gargalhada geral!

Também se lembram da geografia, que o professor ensinava, mostrando um grande mapa da Itália, iniciando em geral sua aula da seguinte forma: “Ecco qui, cari ragazzi, il mapa della nostra Patria… L’ltalia ê un grande stivale gigantesco che avanza in mezzo al mare”. . . Todos os alunos tinham que saber de cor o nome das províncias italianas, das cidades, das montanhas e dos rios principais.

Mais tarde foi introduzido o mapa do Brasil e os alunos deviam conhecer perfeitamente de cor, os Estados e Capitais, rios, montanhas e portos; como também desenhar os contornos e municípios do Estado de Santa Catarina.

Na escola a criança que não se comportasse bem, recebia um castigo proporcionado à falta, ou funcionava a palmatória, que o professor usava sem dó, sempre apoiado pelos pais das crianças. Tudo isso, porém, visava formar gente responsável e cumpridora dos seus deveres.
Os professores eram escolhidos, na maioria das vezes, nos tempos primitivos da imigração, entre as pessoas mais cultas de cada comunidade e pagos mensalmente pelas famílias. Recebiam também do governo italiano e austríaco, uma pequena subvenção, seus consulados, conforme as escolas por eles dirigidas.

O primeiro professor em Rio dos Cedros, foi Giuseppe Marziani.
O segundo, Giuseppe Zanluca.
O mais famoso de todos, entretanto, foi Giovanni Trentini, que lecionava nas três escolas de Pomeranos, com dedicação e amor. Fazia a pé toda a estrada de Pomeranos para atingir as três escolas, com enormes dificuldades. Outro célebre professor foi sem dúvida Vergílio Campestrini e outros, como: Giuseppe Brancher, João Longo, Massimiliano Mengarda, Ir. Ida Meneghelli, Irmãs Catequistas Franciscanas e muitos outros, até os nossos dias.

A primeira escola alemã de Rio Ada foi adquirida por João Cattoni, que a transformou em casa residencial na localidade da Glória, ainda hoje existente. A escola antiga de Pomeranos Central, também, existente ainda hoje, foi transformada em casa de moradia pela família Bonifácio Lenzi.

A preocupação, portanto, do povo riocedrense desde o início da imigração, foi a da educação intelectual e moral. Assim se entende porque de todas as escolas saíram tantos sacerdotes, religiosos, professores, industriais, intelectuais, políticos e profissionais, que honram o Estado e o Brasil.

Hoje Rio dos Cedros possue uma elevada instrução escolar presente em todo o município com ensino de primeiro e segundo grau.